Cerdeira: a aldeia do xisto que é uma obra de arte

Cerdeira, aldeia do xisto na Serra da Lousã, vai ser uma galeria a céu aberto. A pequena localidade recebe o encontro de artes Elementos à Solta, de 1 a 4 de junho. Mas há mais para conhecer.

Tempos houve em que a estrada que levava à Cerdeira, além de íngreme, era em terra batida. Hoje, está alcatroada e tem rails com aberturas para os veados passarem. A aldeia, no meio do verde, é um regalo para os olhos, com as suas casas de xisto recuperadas de forma homogénea e estreitas ruas em declive. Até lhe chegar ao coração, passa-se por uma casa de convívio, uma capela, uma ribeira e um tanque onde, brevemente, apetecerá mergulhar.

Tudo está organizado e limpo, procurando não descaracterizar a alma do sítio, que parece incorporar já as peças de arte que surgem aqui e ali. São vestígios de outras edições do encontro anual Elementos à Solta – Art Meets Nature, que se realiza, pela 12.ª vez, sob o tema “Bichos” – uma alusão à obra homónima de Miguel Torga. No início de junho, a aldeia recebe 14 artistas convidados, performance e cinema, workshops, instalações, concertos e palestras, com tempo para petiscar.

Na Cerdeira, aliás, “o tempo não voa”, como diz o slogan do projeto Cerdeira Village. A sua missão está resumida numa placa: “Dar vida a uma aldeia secular e à paisagem cultural envolvente como local de aprendizagem, interseção e inspiração criativa entre pessoas de várias culturas e saberes”.

Os promotores do projeto Cerdeira Village – a escultora alemã Kerstin Thomas e o casal José e Natália Serra, ela de origem russa – não querem que a Cerdeira seja um museu, nem uma aldeia turística só para passar o fim-de-semana.

Ao longo do ano, há residências artísticas (já foram lá gravados dois discos de jazz), oficinas e cursos. Tanto se pode aprender a fazer chanfana, um dos pratos típicos da Lousã, como escrita criativa de viagens. Tudo isso sem distrações, porque só existe internet no espaço comum que é o Café da Videira. Propositadamente, claro. Os alojamentos nem têm televisão, para estimular a conversa.

Na aldeia há oito casas tradicionais de xisto onde ficar, cada uma delas intervencionada por artistas. Por exemplo, a Casa do Vale tem cerâmica artística de Vasco Baltazar e Zita Rosa, decoração em tons quentes e varanda com vista para a serra. A permanência mínima em qualquer dos espaços é de duas noites.

É difícil acreditar que a Cerdeira tenha estado em ruínas, tal o cuidado com que foi reconstruída desde que, há quase 30 anos, Kerstin Thomas, o marido e um casal amigo começaram a recuperar casas. Mais interessante, pensou ela, seria criar ali algo com continuidade, que gerasse valor. E é o que tem sido feito.

Além de ser “um centro de inspiração criativa para artistas, mesmo não profissionais”, a Cerdeira tem uma galeria que vende desde peças de cerâmica e cadernos até roteiros “Explore o Centro de Portugal”, com carimbo Cerdeira Village, e até uma pequena biblioteca.

Outros pontos de interesse são o forno comunitário onde se coze broa e o forno para cerâmica que não produz fumo, construído sob a direção do mestre ceramista japonês Masakazu Kusakabe. Sem esquecer a Planta do xisto, uma marca dedicada a plantas aromáticas e condimentares. A Cerdeira pode ser uma promessa de tranquilidade, mas tempero não lhe falta.




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