Castelo Branco: roteiro por uma cidade cultural

Não é o destino turístico mais óbvio, mas Castelo Branco tem uma oferta histórica e, sobretudo, cultural, que grandes centros urbanos não desdenhariam. E aquela paz e serenidade típicas da Beira Baixa. Porque nem todos dos destinos têm de ser turísticos e cosmopolitas à força.

A meio da semana, e em altura de férias escolares, o movimento é escasso e os turistas contam-se pelos dedos das mãos. Ambiente típico de uma cidade de província, deixando antever que por aqui nada acontece. Ao Fundão vai-se pelas cerejas, fruto que nos últimos anos se tornou imagem de marca da cidade. À Covilhã, por ser uma porta privilegiada para a serra da Estrela. E a Castelo Branco, capital de distrito, vai-se porquê?

Esta cidade beirã não possui, à partida, uma grande bandeira turística, mas tem muito mais vida do que um olhar desatento, passageiro, possa dar a entender. Desde logo em termos culturais. Na Praça Largo da Devesa, o CCCB (Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco) e o Cine-Teatro Avenida são dois dos edifícios, duas das instituições que marcam o ritmo local. E a paisagem. Autoria do catalão Josep Lluis Mateo, o CCCB é uma espécie de nave que aterrou no coração da cidade em 2013 e logo se transformou num dos seus postais. Um projeto arrojado, futurista, com um pequeno auditório de 275 lugares e vários espaços expositivos. Está em constante diálogo com várias intuições, como Serralves. E também com o Cine-Teatro Avenida, do outro lado da rua.

O Cine-Teatro Avenida e o CCCB são dois dos edifícios, duas das instituições, que marcam o ritmo local e a paisagem.

Carlos Semedo, programador cultural do espaço e da autarquia, defende o trabalho que tem sido feito nos últimos anos. «A cidade está muito forte em termos de infraestruturas e pessoas interessadas». A agenda de espetáculos do mês de março fala por si. Estão lá os nomes de Ricardo Ribeiro (dia 18), Bruno Pernadas (24) e Rita Redshoes (25), três nomes de proa da música portuguesa. Há ainda concertos integrados no Festival de Guitarra de Castelo Branco. Mas nem só de música se faz a casa, apesar de a cidade ter forte tradição nesta área – aliás, tem um Conservatório Regional.

Há teatro, dança e muito cinema, sempre às segundas e terças-feiras. «Houve um período em que Castelo Branco esteve sem cinema comercial e fomos nós que asseguramos a exibição dos filmes. Desde que voltou a haver distribuição voltámos a uma agenda mais independente, próxima do cineclube.» A sala tem 700 lugares. Um edifício inaugurado durante o Estado Novo, em 1954, que também já teve um incêndio digno de filme, em 1986, que quase o destruiu por completo.

Centro histórico

Cultura, história, património, tudo isto está sempre presente quando se explora cidade. Uma boa cidade para descobrir a pé, sobretudo o centro histórico. Há vários solares, igrejas, numerosas casas em pedra que continuam a remeter para o passado e a ostentar com orgulho os seus portados quinhentistas. Uma forma de decoração utilizada para marcar e adornar as portas a que alguns apelidam de «manuelino pobre» ou «manuelino popular», mas que, com o tempo, acabou por se tornar uma das marcas e riquezas maiores.

De porta em porta vão-se descobrindo outras moradas que vale a pena visitar, muitos pontos de interesse para um destino onde, à primeira vista, parecia haver tão pouco. Espaços como a Casa da Memória Judaica, o Museu Francisco Tavares Proença Júnior – localizado no antigo Paço Episcopal, celebra as memórias do bispado, com uma coleção de pinturas e tapeçarias do século XVI, mas também o bordado de Castelo Branco – ou o incontornável Jardim do Paço. Um oásis verde a remeter para meditação e mitologia, onde se destacam uma série de estátuas dos apóstolos e dos reis – de D. Afonso Henriques a D. José.

O artista Manuel Cargaleiro, com 90 anos (e a viver em França) está em contacto constante com a fundação

Falta uma morada. Faltam várias, naturalmente, mas há uma delas de visita «obrigatória»: o Museu Cargaleiro. O artista nascido em Vila Velha de Ródão tem, desde 2005, uma fundação e um museu distribuído por dois edifícios. E não, não é apenas mais um museu. É «o» museu. Se no edifício mais antigo, um solar do século XVIII, está exposta a coleção de cerâmica do próprio artista, no núcleo contemporâneo, inaugurado em 2011, podem ver-se duzentas obras de sua autoria, entre peças de cerâmica, pintura, escultura, azulejos e tapeçaria. Uma diversidade, força, cor e qualidade que surpreenderá os menos conhecedores do seu trabalho. Manuel Cargaleiro, com 90 anos (e a viver em França) está em contacto constante com a fundação e passa por lá frequentemente, muitas vezes para conversas com os mais pequenos. Uma forma de se manter jovem e de passar o amor pela arte e pela sua região.

Talvez seja também o destino (turístico) de Castelo Branco. Continuar a preservar e divulgar o seu legado, a sua pacatez, mas mantendo-se atenta à música, à arte e à cultura dos outros.

Onde comer:

O Lagar
Fica inserido na Herdade do Regato. Um antigo lagar de azeite convertido em restaurante-museu, onde se celebram os pratos da Beira Baixa. Lagarada de bacalhau, cabrito assado em forno de lenha e tigelada da Beira são alguns deles. Começa tudo com uma prova de azeite.

Encosta da Muralha
Durante muitos anos, Nuno Salvado e a mulher fizeram do A Muralha, na zona medieval, um dos restaurantes de referência de Castelo Branco. No final de 2014 mudaram-se de local e de nome, mas a qualidade da cozinha mantém-se. Muitos produtos da época, endógenos, como espargos ou criadilhas (espécie de trufa das Beiras), e em pratos típicos como o cabrito. Não apenas no forno. Todos os dias há cabrito grelhado e, por encomenda, também estonado – de pele crocante, como o leitão. O peixe fresco é outra das apostas. Tal como a garrafeira, com mais de quatrocentas garrafas.


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