Pergunta de algibeira: precisamos mesmo que um estrangeiro nos ensine a gostar de vinho do porto? Talvez, talvez não. A verdade é que os wine bars dedicados ao mais celebrado vinho português não abundam ainda – e, por outro lado, aos que há, muitos portugueses resistem a entrar, por receio de serem apanhados numa qualquer «armadilha para turistas».
«Recebo jornalistas e clientes de todo o mundo, mas é raro ver portugueses por aqui», desabafava, há um par de anos, Jean-Philippe Duhard, dono de um desses raros wine bars, o Vinologia, na Ribeira do Porto. Porém, sublinhe-se, à mesa com o «vinotecário» francês descobria-se um mundo em cada garrafa. E todo o fascínio que pode haver num tesouro que, por andar por cá «desde sempre», se foi tomando por garantido, sem se lhe dar devida atenção.
Jean-Philippe já se reformou. Entretanto, regressou a casa, e deixou o Vinologia nas mãos de Julien dos Santos, outro francês. Mas Florence Bourguignon ainda teve a felicidade de se cruzar com ele. E é no encontro de ambos que começa a história deste wine bar. Aliás, «port wine bar pedagógico», insiste Florence. Aqui vem-se para provar, para descobrir, para aprender – quer se seja conhecedor, quer se seja pouco experimentado nos meandros e nuances deste vinho fortificado.
De volta ao encontro. Ou recuando um pouco mais: em França, Florence trabalhava, como comercial, no setor dos vinhos. Por motivos profissionais teve de visitar duas quintas no Douro. «Apaixonei-me», diz, sem precisar de se alargar nas palavras. A partir daí, traçou um novo rumo de vida, dedicou-se à aprendizagem do porto.
Indicaram-lhe que se aconselhasse com Jean-Philippe, e esse contacto terá, porventura, levado ao passo seguinte: visitar quintas, conhecer os produtores e a sua história, a par de frequentar formação técnica. Andou um ano nessa vida, até que, em março último, abriu portas, já com uma considerável biblioteca de vinhos e histórias para apresentar.
O L’Atelier Porto fica na esquina de uma transversal à Bica, e também aqui «são ainda poucos os portugueses», lamenta Florence. Esse é, aliás, um os seus grandes desafios, mais do que receber turistas, «educar» (notem-se as aspas) o público nacional. O forte da casa são as provas temáticas, organizadas em flights que tanto podem abranger os vários estilos de porto (a saber: branco, tawny e rubi) como focar- -se num só tipo, nos seus subestilos ou nas diferenças entre idades. Em cada prova é explicada a complexidade do vinho, o processo de produção, a história do produtor, e há charcutaria e queijos a completar a experiência. Quando desafiada, Florence cria maridagens para jantares temáticos, sempre fora de portas – já aconteceu no Cave 23, onde afinou harmonizações com a chef Ana Moura, afirmando a vocação gastronómica do porto, usando-se o vinho certo para o prato certo. «Carne com molho para um vintage jovem, pombo para um vintage velho, branco seco para ostras», exemplifica.
Nas prateleiras do L’Atelier, que é também garrafeira, há – além de um madeira, exceção que confirma a regra – porto e nada mais. Proveniente, na quase totalidade, de pequenos produtores, e essa questão, a da dimensão, é ponto de honra para Florence. Porquê? «Na boca sente-se a diferença.» E sente-se mesmo. Palavras para quê?
L’atelier Porto
Travessa da Portuguesa, 38 A (Bica)
Tel.: 211395935
Web: atelier-porto.com
Das 15h00 às 23h00
Encerra ao domingo e à segunda.
Preço: prova de 3/4/5 vinhos a partir de 12/16/16 euros; tábuas de charcutaria/queijos, 13/15 euros