Ruy Leão: «Sou mais português do que brasileiro»

(Fotografia de Rui Oliveira/GI)
O chef nasceu no Recife, trabalhou em São Paulo e acabou por abrir uma tasca japonesa no Porto, a que chamou Shiko. No ano em que o 10 de junho se celebra entre Portugal e o Brasil, o chef explica o que pensa do país onde vive.

Depois de ter tirado o curso de cozinha no Recife e de lá ter trabalhado, acabou por ir para São Paulo. Como foi a experiência?
São Paulo é o pólo gastronómico do Brasil. Consegui um trabalho e fiquei um ano e meio com «vida de cigano». O ritmo era acelerado. Eu queria «levar no pelo» como dizem aqui. E levei! Era sushiman de primeira mas lá os ajudantes eram mais rápidos. Depois de um mês, apanhei o ritmo. Em São Paulo vi de tudo, como izakayas, tascas japonesas, que foram a inspiração para o Shiko. Como sou mais cozinheiro do que sushiman, a minha pesquisa envolveu tudo. Mas tem um lado ruim: aquela cidade acaba com uma pessoa. Muita confusão, muito trânsito. Tudo muito caro.

Como aconteceu a vinda para Portugal?
Eu tinha voltado ao Recife e não estava mal. Tinha um blogue onde escrevia e punha fotografias de comida. Um dia, liga-me um português de Guimarães. Disse que tinha um restaurante e que estava à procura de um sushiman. Depois da conversa nunca mais pensei nisso.

Tinha alguma relação com Portugal?
A única relação era um bar que no Recife que era de um português. Conhecia o caldo verde e o arroz de marisco. Nunca tinha ouvido falar em Guimarães. Nem nunca pensei em vir para a Europa. Tinha passado duas vezes por Lisboa mas só para apanhar o voo para Berlim, onde a minha mãe mora.

Decidiu arriscar.
Ao terceiro telefonema, percebi que era sério. A minha mãe incentivou-me. Se não corresse bem, fazia uma viagem pela Europa e ia ter com ela.

Qual foi a sua impressão dos portugueses?
Vi que eram pessoas acessíveis. Guimarães é uma cidade pequena e limpa, tudo está muito próximo. Conheci logo uma pessoa que trabalhava no cinema e fazia música. Começamos a falar de música e a tocar juntos. Interagi logo com as pessoas e gostei da oferta cultural que tem a cidade.

Depois veio a proposta do Quarenta e 4, em Matosinhos.
Eu já conhecia o chef Pedro Nunes porque era amigo do filho dele, que é baterista. Nem pensei duas vezes. Foi fácil trabalhar lá porque tinha tudo o que um cozinheiro deseja: desde trufas, barriga de atum… Fiquei lá três anos.

Gostou logo do Porto como de Guimarães?
O Porto é mais cosmopolita e parece-se muito com a minha cidade. Recife tem o rio, o mar. Como o Porto, tem um bairro antigo e escuro. Os meus grandes amigos portugueses estão em Guimarães. Quando quero beber um copo e divertir-me vou para lá.

Pensa regressar ao Brasil?
Não. Sou mais português que brasileiro. Defendo a minha raiz, não esqueço de onde vim, mas identifico-me mais com a cultura de Portugal.

UMA TABERNA JAPONESA NO PORTO
Ruy Leão abriu o seu restaurante japonês Shiko no Porto há dois anos. O chef baseou-se no conceito da izakaya, a taberna japonesa onde se serve saquê e diversos petiscos. Mas nesta também há sushi. Em breve, o Shiko terá um irmão mais novo, também no Porto, igualmente japonês mas com outro perfil.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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