O Natal à mesa de 4 estrangeiros a viver em Portugal

República Dominicana, (ex-)Jugoslávia, Síria e Moçambique celebram o Natal com outros costumes, outras tradições, mas a mesma rendição – e união – à mesa. Pedimos a cozinheiros destes países, a viver em Portugal, que partilhassem receitas do seu Natal em família. Quem sabe, de hoje até domingo, alguém ainda se inspire por elas a dar um toque exótico à sua mesa de Natal.

 

República Dominicana

«É uma festa da comunidade»

receitas-natal_26665691_binary_gi17122016jorgeamaral018(chef Dionicio Santiago)

Dionicio Santiago está em Por­tugal há cerca de sete anos e, desde maio de 2012, assume a cozinha daquele que é, até à data, o único restaurante em Portugal de raiz caribenha dedicado à gastrono­mia típica da República Dominicana. Situado em Linda-a-Velha, o Recuer­da Amor é um espaço alegre e convi­vial, como o são também as recorda­ções que Dionicio guarda dos Natais vividos na sua terra-mãe.

Na República Dominicana, apenas as crian­ças recebem presentes nos dias 24 ou 25 de de­zembro, ficando o mais importante para o Dia de Reis. O Natal não passa em branco, mas é vivido de um outro modo. Na quadra natalí­cia à portuguesa, o chef dominicano rendeu-se ao nosso cabrito — «não sou muito apre­ciador de bacalhau», confessa — e perde-se por doces da época, mas não es­conde uma certa nostalgia pe­los Natais à moda do Caribe: «É um momento para desfrutar a vida, com muita alegria, muita comida, muita bebida… Como faz calor, as pessoas vão para a rua, onde há sempre música al­ta, e andam de casa em casa. Não é apenas uma festa de família, é uma festa com os amigos, os vizi­nhos. É uma festa da comunidade, da partilha.»

Embora seja tudo muito mais simples e não se possa falar propriamente em pratos ou do­ces natalícios, o interesse está em que cada pessoa ou família, por regra, apenas prepara uma iguaria, fá-lo é em grandes quantidades, pois manda a tradição que nesses dias se vá de lar em lar e se ofereça um pouco aos ami­gos e parentes.

Recuerda Amor
Avenida 25 de Abril de 1974, 5 Loja A, Linda-a-velha.
Tel.: 214193550
Web: recuerdaamor.pt
De terça a sábado, das 12h30 às 15h00 e das 19h30 às 23h00.
Preço médio 10 euros (almoço), 17,50 euros (jantar)

 

Síria

«Ortodoxos ou católicos, todos gostamos de comer»

receitas-natal_26659688_binary_gi16122016ruioliveira000020(chef Sebouh Soghmahian)

Sebouh, sírio de Aleppo, é cris­tão ortodoxo, mas andou na escola católica, por causa da sua avó. Na família, convivem estes ramos do cristianismo e comem-se muitos pratos diferentes nesta épo­ca de Natal (que ele celebra em ja­neiro) e no fim do ano. «Uns são or­todoxos e outros católicos, mas to­dos gostam de comer», diz o dono do restaurante com o seu nome – Sabores do Sebouh – que abriu no Porto, com a mulher portuguesa, Célia, trocando a carreira de ourives pela cozinha.

Na carta convivem pratos de inspira­ção síria, libanesa, grega e tur­ca, tudo feito por ele. Bolinhos de bulgur com carne, morta­dela caseira, frango cozido re­cheado e peixe-gato do Eufra­tes são alguns dos pratos à mesa na época festiva, e ainda estes dois que Sebouh preparou pa­ra a Evasões, um arroz com car­ne e frutos secos de origem oto­mana e kunefe, um doce feito com massa ka­daif e nozes… e manteiga açoriana («a melhor de todas», diz Sebouh).

Sabores do Sebouh
Rua Miguel Bombarda, 34 (Cedofeita), Porto.
Tel: 933446790.
Web: facebook.com/Sabores-do-sebouh
Das 13h00 às 23h00.
Preço médio: 12 euros

 

Moçambique

«Passamos a noite em churrascos e a dançar»

receitas-natal_26658836_binary_gi16122016pedrogranadeiro_000001(chef Orlanda Barbosa)

Em Moçambique, o Natal calha no verão, por isso «há sempre marisco com fartura», diz Or­landa Barbosa, conhecida como Tia Orlanda, o nome do restaurante que abriu, nas Taipas, há quatro anos, de­pois de se consagrar como cozinhei­ra no bar da Associação Porto-Mo­çambique e, antes disso, ter sido empregada doméstica, costureira, jardineira e telefonista. Em boa hora, decidiu dedicar-se a uma carreira que nem a mãe, enfermeira, percebeu que lhe corria nas veias. Mas a verdade é que esta moçambicana de 51 anos, nascida em Maputo numa família da Zambézia, sempre esteve fortemente liga­da à sua cultura, mesmo a viver no Porto (de onde é o pai) desde os 14 anos e nunca ter voltado ao seu país natal. Rendeu-se ao ba­calhau porque o marido, portu­guês, adora comê-lo.

É muito simples, porém rico, o prato de camarão-tigre grelha­do que escolheu partilhar e que se faz com frequência em Mo­çambique, quando as famílias regressam da missa do galo e passam a noite «a fazer churrascadas e a dançar». O jantar, antes da missa, faz-se com leitão, ca­brito e peru assados. Os doces são de inspiração portuguesa: rabanadas, arroz-doce e sonhos

Tia Orlanda
Rua das Taipas, 113 (Clérigos), Porto.
Tel: 914622823.
Web: facebook.com/tiaorlanda­saboresmocambicanos
Das 12h00 às 15h00 e das 19h30 às 23h00. Sexta e sábado até às 00h00. Encerra terça.
Preço médio: 15 euros

 

Jugoslávia

«A comida era deliciosa e comia-se muito»

ljubomir-stanisic(chef Ljubomir Stanisic)

Nos muitos anos que leva em Portugal – em que abriu res­taurantes, casou-se, teve fi­lhos, escreveu livros e participou em programas de televisão, Ljubomir Stanisic, ou apenas Ljubo como quase todos o tratam, sempre fez questão de se dizer jugoslavo. Por mais que a Ju­goslávia não exista a não ser nos livros de História e na memória dos que têm idade para se lembrar e contar como foi.

Pela primeira vez, nem de propósito, Lju­bo vai realizar no dia 6 de janeiro, que coinci­de com o Natal ortodoxo, um jantar especial no Bistro 100 Maneiras, em Lisboa, para ce­lebrar a data de uma forma plural: «Vou ter a minha mãe, que é bósnia e celebra o Natal or­todoxo, a minha irmã, um primo, uma amiga croata… Quero juntar todos e com eles preparar uma ceia que, tal como a antiga Ju­goslávia, seja ao mesmo tempo ca­tólica, ortodoxa, muçulmana.»

Ljubo cresceu entre Belgrado, na Sérvia, e Sarajevo, na Bósnia. Com o seu habitual humor, se lhe perguntarmos qual é a recordação mais viva que guarda dos seus Na­tais por lá, a resposta não desapon­ta: «Lembro-me da fechadura do carro congelada, porque nesta altura do ano sem­pre faz uns 15 graus negativos.» A par da família, os amigos sempre tiveram um papel importan­te nessas tradições: «A comida era deliciosa… co­mia-se muito, bebia-se muito… e recordo-me das casas serem muito mais quentes do que aqui», acrescenta. Não que se queixe. Plenamente adap­tado aos nossos hábitos, Ljubo não se faz rogado na mesa de Natal à portuguesa: «Gosto de tudo, do bacalhau, dos grelos, dos sonhos… sou lou­co por sonhos!»

Dos pratos que vai servir no seu Natal «ju­goslavo», o chef do 100 Maneiras destaca a sarma, uma receita de repolho recheado que se encontra muito na Croácia. Llubo descre­ve-a como uma couve que fica a fermentar por um mês, sendo depois lavada e recheada com um refogado onde vai cebola, sal, pimen­ta, colorau, ovo, vegetais e carnes. De seguida, a couve recheada, acompanhada por carnes fumadas à volta, pode ir cozer por seis horas num tacho ou, como faz a sua mãe, ir assar ao forno por 12 horas. Mas porque nem todos so­mos o Ljubo – ou a mãe do Ljubo –, sugerimos uma versão alternativa, fácil de preparar. Pa­ra sobremesa, baclava, um doce que os tur­cos ajudaram a difundir no império otoma­no e cuja receita é fácil de encontrar.

BISTRO 100 MANEIRAS
Largo da Trindade, 9, Chiado.
Tel.: 910307575.
Web: restaurante100maneiras.com
De segunda-feira a sábado, das 19h30 às 02h00.
Preço médio: 40 Euros




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