Leopold: a cozinha de autor num pátio lisboeta

A burocracia impediu que o novo Leopold abrisse antes, mas a espera, a julgar pelos primeiros acordes, parece ter valido a pena. Não só pelo local, paredes meias com o Castelo de São Jorge, como pela evolução do projecto.

O que antes era uma necessidade ditada pelas circunstâncias acabou por se tornar, com o avançar do projeto Leopold, num gosto e numa identidade próprios. Tiago Feio e Ana Cachaço, parceiros de vida e sócios, deixaram para trás o estabelecimento acanhado na Mouraria, onde provaram ser possível criar e servir uma cozinha autoral sem recurso ao fogo (já que não havia extração de fumo), e passaram a um outro capítulo, agora quase paredes meias com o Castelo de São Jorge.

Pelo meio, Tiago ainda ponderou trocar o nome do restaurante, mas Ana demoveu-o. Só não contavam, um e outro, que, entre o convite de Frederic Coustols (dono do hotel-boutique Palácio Belmonte) para assumir este espaço e as licenças da câmara, passasse quase um ano. Sem mais tempo a perder, assumiram o risco de abrir de forma muito discreta, primeiro só para os hóspedes do hotel, até que a boa nova se espalhou e agora não há volta a dar.

Situado no Pátio de Dom Fradique, um local que muitos lisboetas desconhecem apesar de se encontrar no coração histórico da cidade, o novo Leopold ocupa as divisões recuperadas de uma antiga casa de polícia comprada por Frederic, de quem receberam carta branca. Resultou uma arquitetura minimalista de paredes brancas suportada por três vigas mestras, com boas entradas de luz, apontamentos sóbrios escolhidos a dedo de vários artistas da comunidade local que Tiago quer envolver cada vez mais no processo — bem como trabalhar em conjunto com outros restaurantes autorais de perto, de modo a que não sejam só os turistas a frequentar esta zona — e um diálogo sem entraves entre a cozinha e a sala.

Tiago dispõe de outras condições para cozinhar e criar, mas não abre mão desta interação constante e de ser ele mesmo, muitas vezes, a levar os pratos à mesa. Por falar em mesas, são apenas quatro — uma comum de oito lugares, duas mais pequenas de quatro lugares cada e uma outra, numa salinha contígua, onde cabem mais seis — para um total de 22 pessoas, sendo que existe apenas um menu de degustação ao jantar, de quarta a domingo. E voltamos à tal necessidade inicial que acabou por mostrar o caminho a seguir. Interessa-lhes trabalhar com produtores locais e praticar uma cozinha sazonal, onde, mais do que brincar com o sabor — «algo que acaba por surgir de forma natural» —, querem explorar as texturas. Sempre sem excessos, quer nos ingredientes (três , no máximo, por prato) quer no número de etapas — categoricamente contra menus muito extensos, Tiago aposta em 8 a 9 pratos por refeição (dois ou três mais substanciais), alternando os picos de intensidade de modo a que se possa provar várias coisas sem haver cansaço.

Com um custo de 40 euros por pessoa, o menu mantém-se toda uma estação, mas a liberdade criativa, e o facto de terem alguns repetentes leais, permite-lhes ir testando novas entradas. Até porque Tiago encara este Leopold como algo «em permanente evolução».

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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