A inovação pode casar com uma tradição sem a desvirtuar. Moisés e Paula Camarinha acreditam tanto nisso que, a partir do Museu Vivo da Fogaça – Fogaçaria e Confeitaria, no centro histórico de Santa Maria da Feira, adicionam chocolate, frutos vermelhos, frutos secos e outros ingredientes ao pão doce que, em 1505, o povo ofereceu ao mártir São Sebastião.
No espaço, nada foi deixado ao acaso: dos mosaicos hidráulicos ao balcão que imita o das antigas mercearias, dos sofás de couro às mesas de mármore dos anos 1920 rodeadas de cadeiras desirmanadas. À entrada, há um palco com um piano e instrumentos de corda, que podem ser usados, e uma grafonola. O ar cheira a pão doce, que se vê a sair do forno pela janela atrás do balcão. Por aqui desfila a corte de doces de fogaça que Carlos Moisés e a sua equipa estão a criar.
Existem as cortesãs, miniaturas com base de chocolate e recheio de cremes variados: framboesa, baunilha com rum, café e creme de bola-de-berlim. E a imperatriz, recheada de chocolate, com molho de morango e decorada com trufas de chocolate. Na mente de Carlos Moisés já começam a desenhar-se os próximos elementos. Hão de ser um colorido bobo, uma duquesa e um cavaleiro. Fora dessa corte ficam outros doces que fazem sucesso. A lista inclui a fogaça com frutas cristalizadas em licor, com avelãs, noz e amêndoa, as princesinhas de chocolate ou com ovos moles, salame de fogaça com chocolate, pudim, rabanadas.
A fogaça também se presta a sabores salgados, podendo servir para torradas com queijo, tostas com camarão, sanduíches diversas e empadas. Carlos Moisés integra o agrupamento de produtores de fogaça da feira e faz questão de ser rigoroso na receita de um doce que recentemente foi certificado com a Indicação Geográfica Protegida pela Comissão Europeia. Mantém a farinha, o açúcar, o sal, o fermento, a manteiga, os ovos, a raspa de limão e a água em doses rigorosas.
ESPAÇO DE ARTE E CULTURA
A inovação começou nos doces, estendeu-se ao nome (nunca antes uma casa que vendia fogaças fora batizada de fogaçaria) e prolongou-se no conceito de museu-vivo. Dentro destas quatro paredes pretende-se também divulgar arte, cultura e tradições. Além de bolos, ali confecionam-se oficinas para ensinar a amassar e conta-se a história que deu início à tradição – o povo queria proteger-se da peste e prometeu a São Sebastião dar o pão doce aos pobres em troca de proteção.
As paredes do museu recebem exposições temporárias. Nas prateleiras há fogaceiras de pano, de cerâmica e obras de arte criadas por diferentes artistas para honrar a tradição da feira. Tudo boas desculpas para se demorar e ir degustando lentamente.
O Museu Vivo da Fogaça – Fogaçaria e Confeitaria abriu portas em 2012, dando novo rumo à vida de Carlos Moisés e Paula Camarinha. Ele já fora quase tudo. Andou na construção civil, trabalhou como carpinteiro, foi talhante, vendedor e percorreu feiras temáticas por todo o país a dar e a provar a fogaça. Ela era auxiliar de laboratório numa escola. Agora, juntos, dedicam-se a reinventar a fogaça.
Museu Vivo da Fogaça – Fogaçaria e Confeitaria
Rua Dr. Vitorino de Sá, 42
Tel.: 256047976
Web: museuvivodafogaca.com
Das 08h30 às 23h00; sexta e sábado, até às 01h00; domingo, até às 19h30. Não encerra.