Delfina: restaurante lisboeta faz fusão sem confusão

Há um problema com os conceitos de comida, que é o de nunca conseguirem dizer aquilo que nos espera no prato. Por isso, é melhor entrar no Delfina – Cantina Portuguesa, em Lisboa, sem pensar em cozinha de fusão e apenas esperar o melhor.

E também não interessa ir a cismar no nome operário e o que significa ali, naquele espaço integrado num pequeno hotel de charme, o Alma Lusa, e em plena Baixa lisboeta. Mais vale entrar lá somente contando que se vai comer muito bem, ao estilo tradicional com alguma graça de exotismo, num ambiente aconchegante. Porque é isso que se leva da Delfina e dos bons restaurantes desta vida.

O lugar é despretensioso e emergiu de um restauro comedido, porém bem planeado pelo arquiteto e decorador Giano Gonçalves, que aproveitou algumas estruturas dos usos comerciais anteriores do espaço e conseguiu dar charme a acabamentos primários.

As mesas, de madeira com tampos de metal pregados, são de uma simplicidade cativante e que combina com o nome de Delfina – Cantina Portuguesa, que, diga-se a verdade, surgiu por graça e pelo som musical, sendo mais importante descrever como são saborosos e bonitos os pratos criados pelo chef Pedro Sommer (consultor da carta) e trabalhados diariamente pelo chef executivo Cláudio Santos. «Uma cozinha portuguesa que explora outras partes do mundo», é o conceito da Delfina expresso pelo diretor do restaurante, Diogo Sequeira, que gere aquela concessão a cargo de António Oliveira e Silva que é também dono do Este Oeste, em Belém.

«Uma cozinha portuguesa que explora outras partes do mundo», é o conceito da Delfina

O chef Pedro Sommer chamou Petiscos & Copos à carta principal, que inclui clássicos como peixinhos da horta e pimentos padrón e dá uma volta muito sua a outros ingredientes habituais da nacional petiscada, oferecendo na carta lulinhas salteadas com coentros e alho, ovos Chiado (ovos estrelados com trufa), pica-pau com pickles, um atum braseado com legumes asiáticos em molho teriaki, entre outras boas fusões, mas sem confusões que façam perder a noção do que se come – é sempre alguma coisa bem conhecida, que revela um lado B. «Jogamos com os sabores portugueses, da lusofonia e dos Descobrimentos», adianta Pedro Sommer.

Na mesma lista, são chamados de petiscos pratos de maior sustento e que, ao chegarem à mesa, não deixam adivinhar o tamanho sabor que têm. Entre eles, uma delícia chamada senhorinha (terrina de fígados com figos secos e vinho do Porto) ou o bacalhau em pontas, em que o bacalhau de meia cura se harmoniza com lima, cebola roxa, milho frito, manga e maçã Granny Smith.

A carta é propositadamente comedida, incluindo ainda quatro sandes e quatro saladas, assim como uma lista de malgas – isto sim, marca de cantina. São, por exemplo, malgas de arroz carolino de fígados ou de legumes ou ainda açordas e massas. Entre petiscos ou malgas, há que escolher (e partilhar) os dois, mas sobretudo nunca sair sem sobremesa – poucas e muito boas.

(Texto publicado na revista Evasões, dia 29 de abril de 2016 – edição semanal nº 57 )

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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