Crítica de restaurante: Bem-Me-Quer, em Braga

Fica nos baixos bracarenses, onde a malta nova vai agora beber gin tónico nos muitos bares disponíveis, o Bem-Me-Quer, um dos clássicos da cidade. Vamos muitas vezes por conforto, gula e vício, que é raro o que é assim bom.

Queremos mais. Queremos sempre mais. Repetimos em solilóquio que isto já conhecemos e que é parecido com aquilo, ou que devia aparecer uma nova forma de apresentar o clássico à mesa. E é verdade, temos direito à surpresa, ao inteiramente novo. Sabe bem, contudo, chegar a Braga e constatar no Bem-Me-Quer que isso vive no que é de sempre. Aqui, claro.

José Dias, outrora na juventude de aspirações profissionais, acabou por encarreirar na restauração, por circunstâncias a que insistimos em chamar acasos mas não, são destino. Concentrado no seu ofício, é homem de cultura, estudioso permanente das raízes e causas da tradição culinária, no limiar da obsessão. Ao lado do Bem-me-Quer, no Campo das Hortas, estão outras casas veneráveis pelo calor com que acolhem quem se senta à mesa. Come-se bem em Braga, é um facto. É por isso injusto elevar José Dias acima dos pares, mas mais injusto é não o distinguir pela luta assumidamente pessoal com que busca o melhor produto, o melhor vinho e a melhor experiência. Todos os dias, a toda a hora, com uma equipa de luxo na cozinha, com quem tem uma ligação forte e empática.

O bacalhau à Braga conhece aqui a declinação de bacalhau à Bem-me-quer (17 euros) e além de ser o mais popular é copiosamente servido. É logo um primeiro prato em que percebemos a força da casa, e o que é verdadeiramente o «mesmo de sempre», com a estrela de «inteiramente novo». Portugalidade prodigiosa. Ver o carinho com que José Dias explica a quem ali está pela primeira vez sublinha o seu lado vocacional inefável. O homem nasceu para isto. E tem as suas vaidades, escolho os bolinhos de bacalhau – pastéis para as tribos a sul – e o pudim do abade de Priscos pela qualidade e prazer que são. Um na fase inicial, posto na mesa de forma inocente, o outro trazido no final, com requintes de malvadez. Ninguém come só um bolinho, ninguém se fica apenas por uma fatia.

O que fica pelo meio? Tudo, que há que desbravar. O cabrito assado (17 euros), saltitão feliz da serra do Gerês sacrificado no fogo sábio da cozinha desta casa que nos quer bem, e dois pratos-tese, que temos de frequentar: lampreia à bordalesa (29 euros), na sua época, e papas de sarrabulho com rojões (20 euros), ambas de abordagem culinária imaculada, sabores que só aqui. A redenção do sabor português. Os bifes ilustram a relação de proximidade que a casa tem com criadores e fornecedores de carne. Na caçarola (16 euros), à casa (15 euros) ou de vitela (14 euros), todos abordagens válidas para quem prefere fugir das temperos e sabores mais fortes dos pratos-emblema. Trabalho notável de construção da carta de vinhos, é fundamental falar com José Dias para estabelecer a trajetória certa. Tem boa oferta de vinhos da região e uma lista de títulos do resto do país que lhe permitem viajar. E nós, claro, viajamos nesta nave onde encontramos tudo o que queremos. Muitas vezes.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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