Crítica de restaurante: Líder, no Porto

Crítica de Fernando Melo: restaurante Líder, Porto
A sala do restaurante Líder, nas Antas, Porto
Na bonita composição de prédios que orla as Antas no Porto, há uma joia com nome de campeão onde se processa e cria o gosto de sempre a que gostamos de chamar tradição. Passam as gerações pelas suas mesas e mantém-se a expressão feliz de quem diz até à próxima. O mesmo de sempre, dir-se-ia. Não, inteiramente novo. E todos os dias, que o Líder não fecha.

Ainda não tem 60 anos o herói que há 30 mantém na faixa mais veloz da pista o restaurante Líder. A corrida é consigo próprio, Manuel Moura é homem de causas e desafios e exímio a arregimentar soldados para os seus combates. A confraria das tripas está entre as mais veneráveis iniciativas a que tem dado continuidade do maior brilho. A amizade e entrega de que é capaz deixa-nos a todos com vontade de rever o pouco que dedicamos realmente aos nossos amigos. E o sentido de serviço deixa-o muitas vezes apartado da família, para se dedicar a momentos mais intensos no restaurante.

Os empregados são espelho da mesma atitude, mesmo com casa cheia é como em casa. E muitos dos clientes moram muito perto e fazem ali as suas refeições em família. O Líder é, no entanto uma das principais mesas do poder do país, não nos enganemos. Do pequeno poder ao dos chefes de estado, passando pelo futebol, altos quadros e finança, passa por aquela sala muito do nosso futuro.

Deve ser o único restaurante onde há cinco sopas, e todas têm saída. A sopa de legumes (2,5 euros), cremosa é um primeiro conforto primoroso, o caldo verde (3 euros) daquele que a gente sabe, a sopa de agriões (4,5 euros) é uma delícia, a canja de galinha (3,5 euros) quase uma refeição e a sopa à alentejana com ovo (4,5 euros) um compacto de almoço e jantar. Eu deixo-me levar pela profusão de miniaturas de croquete, bolinho de bacalhau, rissol de camarão, surribando até ficar o pratinho careca, para vir outro e por aí fora. Ninguém resiste a começar assim. Os ditos bolinhos também vêm, pedindo, com salada de feijão frade (17,5 euros). Os tripeiros têm fama de comilões mas este prato contraria a tese.

Os filetes de pescada com arroz de tomate (18,5 euros) são daqueles que já não há, bacalhau assado (24,5 euros) autêntico e à Narcisa com presunto (22,5 euros) faz-nos parar de falar. Isto se não houvesse linguado à delícia (24,5 euros) de antologia, tipo última vontade. Carnes. Há tripas à moda do Porto (18 euros) todos os dias. Sim, todos os dias; Manuel Moura vive a vida que advoga. Sete bifes, zona bem coberta e sustentada pelos cortes mais felizes de peças da confiança do nosso homem. Belíssimo tártaro (25,5 euros), excecional posta de vitela com grelos (22,5 euros). Sobremesas diversas de recorte caseiro, confirmam o postulado principal. Efeito planador que o líder Moura governa como ninguém, está tudo certo no voo rasante pelo que é de sempre. Pelo futuro que tem.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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