Crítica de Fernando Melo: Monte Rey Golf & Country Club

Vistas restaurante crítica Fernando Melo
O restaurante tem assinatura do chef Albano Lourenço.
Não se passa sem querer pelo Monte Rey Golf & Country Club, nos baixos raianos da algarvia Sesmarias, em Vila Nova de Cacela. Desde há mais de um ano vem-se pelo imperativo de consciência de passar umas horas nos braços oficiantes do chef Albano Lourenço e fiscalizar o brilho da sua cozinha no Vistas.

Passado mais de um ano do regresso ao Algarve do homem que ao longo de década e meia me habituei a ver na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, chegava o momento de me aproximar da nova mesa de Albano Lourenço. Campo de golfe vastamente premiado, faltava quem desse o brilho necessário ao restaurante Vistas e em boa hora passou pela mente dos decisores o nome de Albano Lourenço. É um dos raros cozinheiros que sabe manejar a enxada e trabalhar a horta como quer, sem abdicar da sofisticação e fantasia culinárias que tanto o caracterizam. A batata foi em tempos assunto e objecto de uma sessão extraordinária de show cooking a que tive o privilégio de assistir, uma de muitas vezes em que pude aquilatar o fabuloso mundo interior que leva dentro. A importância suprema que tem o para si o produto e o quanto se dedica a transformá-lo.

A A2 para chegar ao Algarve e depois a Via do Infante para o percorrer até à raia são a forma mais expedita de nos pormos no Monte Rei sãos e salvos. Poucas dezenas de quilómetros de estrada boa são mesmo a única excepção às autoestradas. Um copo de espumante junto a uma prumada de madressilvas que poucos conhecem, logo à entrada do Vistas, o restaurante topo de gama do complexo, é o primeiro contacto com o grande chef Albano Lourenço em terras algarvias. Está com tudo de feição, a estrutura de gestão tem permitido criar no restaurante um espaço de referência, com a equipa a consolidar-se de forma sustentada.

É evidente, no glorioso menu que explorei à mesa com a mão segura do escanção Nuno Pires, que estamos junto ao mar, apesar da forte tonalidade de campo que os mais de 400 hectares à volta oferecem. A cornucópia de sardinha – cone crocante de tinta de choco – marca o início da degustação, seguida do carapau com dashi, cheio de intenção étnica e sensibilidade culinária, caldo francamente brilhante. Já há tomate e do bom, vem uma sopa do dito com ovo de codorniz, maravilha complementada pelo presunto crocante e azeitona preta, completando a sequência inaugural de três amuse-bouches.

Vem o mais curioso dos pratos da degustação, lagostim com creme de lavagante e gel de ananás e gengibre, risco assumido e superado de texturas e harmonização dir-se-ia impossível de ligação de sabores entre si. Brilhante o seguinte, atum braseado com molho de peixe e xerém de tomate, teria sido o prato da noite se não tivesse a coroa assentado ainda melhor no genial gaspacho de morango com ostra de cacela velha, o prato seguinte. Emoção em estado sólido, irrepreensível, Albano Lourenço a puxar dos seus galões como que a dizer de ostras percebo eu, e muito mais.

A sua humildade é enorme mas gigante o seu talento. Surge um mar-terra com o robalo, puré de grão e caldo de mão de vitela, mestria culinária, grande rigor e acerto, e a empreitada salgada termina com a primeira e única carne do jantar, borrego com crosta de coentros, puré de vitelotte e jus de carne. Depois os foguetes do fim glorioso da festa, sobremesas de maçã e ameixa, primeiro, morango e manjericão a seguir. Tudo permanece ainda presente na memória, a mostrar como o que é bom é eterno. Parabéns, Albano Lourenço. Bravos, Nuno Pires e Bruno Flores.

 

A refeição ideal
Degustação Chef Albano Lourenço
95 euros, suplemento 60 euros para vinhos
Trilogia de atum, gelado de wasabi e soja
Gaspacho de morango e ostra de Cacela
Ravioli de pescada, molho de carbonara
“Cataplana” de marisco
Robalo, risoto de laranja e molho de ostra
Lombo de borrego em crosta de coentros, batata violeta

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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