Crítica de Fernando Melo: Horta dos Brunos, Lisboa

Cozinha imaculada, a privilegiar a integridade do produto e a transparência do processamento culinário. Os toques regionais a que todos sucumbimos, vertidos em entradinhas, petiscos e pratos diversos. Paraíso de enófilos, coleção copiosa de whiskies e oferta generosa de gins. O que é que o Horta dos Brunos não tem?

Ao almoço aconselho o parque da Pascoal de Melo, ao jantar o táxi é o meio de transporte mais atinado, tanto pela exiguidade de espaço nas ruas que confinam o restaurante, como pela seriedade da empreitada que nos espera. Pedro Filipe é um dos mais originais profissionais de restauração de Lisboa e não dá tréguas a ninguém. Não é pessoa com que se empatize à primeira – há quem reaja mal às suas pequenas informalidades, como a de perguntar no fim quanto queremos pagar –, mas nunca a porta desta casa abriu sem que o melhor produto do dia – carne e peixe – estivesse pronto a trabalhar e servir. Os melhores fornecedores da capital conhecem-no bem, tiram fotografias com ele e convidam-no para casa deles nos dias festivos. Como os clientes, depois da primeira refeição passam a habitués e amigos para a vida.

Tudo começou quando Pedro veio de Tondela para Lisboa em 2001, gerir a casa que dois amigos, Bruno Pires e Bruno Esteves – donde o nome Horta dos Brunos – haviam aberto em 1998. Correu bem e em 2003 o jovem empresário fica com o restaurante para si. Mesas amplas, cadeiras preparadas para refeições longas, tudo respira e inspira conforto. A sua mulher Paula Montenegro é de São Martinho de Coura e juntos são dupla de respeito.

Gambas al ajillo (17 euros), amêijoas à Horta dos Brunos (17,50 euros), jaquinzinhos fritos (5,50 euros), salada de pimentos (4 euros) e presunto pata negra (16,5) são os pontos por onde proponho navegação no capítulo entradeiro, mas há bem mais donde escolher. Os peixes nobres estão presentes consoante o mercado e a época o permita, e a massada de peixe (38 euros, 2 pessoas) é mais do que recomendável. Há uma sopa de tomate com garoupa (19,50 euros) que é uma refeição deliciosa só por si e um bife atum (22,50 euros) de grande qualidade e técnica. Nas carnes pelo menos uma vez há que conferir o arroz de entrecosto com grelos (30 euros), pela viagem que proporciona, e os medalhões do lombo à Horta (23,50 euros), pela qualidade da carne.

A decoração da casa não deixa margem para dúvidas quanto à paixão de Pedro Filipe pelo vinho. Formatos diversos, caixas dos melhores vinhos nacionais, serviço impecável à mesa, respeito por temperaturas, tipos mais adequados de copo e aconselhamento acerca do melhor vinho para a refeição que vamos fazer. O resto é exploratório e depende do gosto de cada um. Vale a pena conferir a oferta de whisky e gin, verdadeiramente notável. Quem diria, numa esquina da Estefânia, quem diria, uma horta assim.

Classificação
O lugar: 4
A comida: 4,5
O serviço: 4,5

A refeição perfeita
Amêijoas à Horta dos Brunos (17,50 euros)
Pimentinhos de Padrón (4 euros)
Linguiça com cogumelos (4,50 euros)
Naco de vitela (23,50 euros)

 

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