Chegou a hora das massas asiáticas em Lisboa

As italianas há muito que nos ganharam pelo estômago, mas, aos poucos, as massas asiáticas, frescas ou não, com ou sem glúten, estão a somar pontos e a engrossar a sua legião de admiradores. Tudo isto porque, além de mais leves, são também muito saborosas.

Chegaram de mansinho, quase a medo e sem fazerem grande alarde. Mas, pelo menos em Lisboa, vieram para ficar. A culpa foi sobretudo dos ramen – um caldo japonês, de origem chinesa (daí o outro nome, lamén), onde entra macarrão, ervas, legumes e carne – e também do boca a boca, que ajudou a divulgar sensações locais como o vietnamita Pho-Pu, na Mouraria, cuja especialidade é, precisamente, o pho, uma sopa de massa com carne, ervas aromáticas e picante, muito nutritiva.

As sopas e os caldos sempre falaram alto ao nosso coração. Claro que o papel dos viajantes também foi importante – quem não tem um amigo que voltou da Ásia completamente maravilhado com as massas de lá ou um conhecido que não se cansa de gabar a existência de cantinas de noodles em Londres ou Nova Iorque? –, bem como as novas modas e necessidades alimentares. Detalhe importante, boa parte das massas asiáticas não usa trigo ou farinha de trigo na composição e, ainda assim, conseguem ser firmes, não ficar coladas e ser saborosas – em alternativa usam farinha de arroz, bolotas, feijão-verde e até batata-doce. Entre as japonesas, as mais populares, além da que é usada nos ramen, são a udon (massa grossa de farinha de trigo) e, no rol das favoritas, a soba, um fio fino à base de trigo sarraceno (mais proteico do que o arroz e sem glúten).

Nestas coisas, porém, nada como passarmos da teoria à prática. Escolhemos na capital cinco propostas diferentes dentro deste universo das massas, e por isso bem ilustrativas do que temos hoje à disposição nesta matéria.

Quem não saiba vai julgar que, a dada altura da refeição no Happy Noodles, alguém está a atirar uma bola de basquete contra a parede. Não é o caso. Neste restaurante fazem questão de preparar na hora todas as massas usadas na confeção dos pratos – daí o barulho que vem da cozinha, no piso inferior, mas à vista de todos. Ali, a massa é sovada, transformada em fios e depois cozida. O facto de ser caseira faz toda a diferença, tendo os proprietários optado por uma variedade de noodles típicos da cidade de Lanzhou, no Noroeste da China. Conhecida como «massa de carne de vaca», porque na sua composição entra além de legumes também a carne bovina, esta massa fresca feita à mão é muito usada para preparar os ramen, sendo que na carta há pelo menos três opções (uma com carne de vaca, outra com chucrute e uma terceira com legumes), fora outras sopas de massa. O sucesso tem sido tanto que já pensam em abrir novas unidades em Lisboa.

Boa parte das massas asiáticas não usa trigo ou farinha de trigo na composição

Bem diferente é a proposta de The Old House, já que se baseia na cozinha da região chinesa de Sichuan, conhecida por ser bastante picante – ao todo, são usados oito tipos de malagueta, frescas, secas ou em pó, em conjugação com a famosa pimenta de Sichuan (que provoca uma ligeira dormência na boca). Os responsáveis pelo projeto garantem não só o cuidado na adaptação da intensidade ao paladar português (a pedido, podem até abolir o picante), como incluem no seu vasto cardápio os famosos noodles translúcidos – os vermicelli, não confundir com os «noodles de celofane», que levam amido do feijão, ao passo que estes são à base de arroz – em sopas, como uma versão ácida com legumes, e pratos, como um que leva carne de porco picada.

Já o Bonsai Lisboa, em atividade há 30 anos, foi dos primeiros da cidade a instituir o ritual do ramen, ainda que apenas em dois sábados alternados por mês e só ao almoço. O do Bonsai é particularmente suculento, daí que, no verão, Lucas Azevedo, o chef, tenha optado por uma versão mais leve: o macarrão é o mesmo, bem como a carne, mas o caldo vem frio e incorpora outros ingredientes (também frios) como tomate ou omeleta. A massa do ramen, bem como a udon e a soba, são importadas do Japão, sendo vários os pratos na carta que as incluem. Lucas destaca dois: tenzaru soba servida fria, depois de enrolada na esteira, com tempura; e nabeyaki udon, em que a massa udon é cozida no tacho com legumes, frango e uma espécie de ovo escalfado.

O Bonsai Lisboa, em atividade há 30 anos, foi dos primeiros da cidade a instituir o ritual do ramen

Antes de abrir as portas do Infame, no 1908 Lisboa Hotel, Nuno Bandeira de Lima, que não era totalmente estranho à vizinhança, teve alguns meses para explorar o pequeno mundo de influências gastronómicas que é a Mouraria. Pois foi precisamente do Mi Dai, um restaurante chinês do bairro, que trouxe a inspiração para criar um dos pratos vegetarianos com mais saída, a pasta Valmor, cuja base é uma massa de arroz – praticamente só à base de água e arroz ou farinha de arroz, esta massa chinesa coze muito rápido e é bastante mais saciante do que as variedades de trigo; logo ideal para quem não pode ou não quer ingerir glúten.

Vasco Lello, por último mas não menos digno de nota, procurou trazer para a cozinha do Café Colonial, no hotel Memmo Príncipe Real, as diferentes influências que os portugueses levaram e absorveram durante as suas andanças pelo mundo através dos tempos. Na carta existem pratos que nos remetem para África, Índia ou Brasil, sem nunca perder de vista uma base lusa, mas o chef não esconde que as suas preferências vão claramente para a Ásia – «pela simplicidade» –, massas incluídas. No Café Colonial há, até ver, um wok de massa soba e legumes e um pato asiático com uma taça de noodles e legumes. A procura tem sido tanta que tanto a soba como os noodles são importados, de uma marca indonésia, o que mesmo assim exige uma atenção especial: «São mais frágeis e difíceis de trabalhar, pois se em nenhuma massa convém passar do ponto, nestas, se acontecer, ficam automaticamente intragáveis», revela. Para garantir o ponto certo, ao dente, Lello optou por as envolver sempre no final, ou seja salteá-las juntamente com os outros ingredientes.

Fisgaram-nos pelo estômago. Como em tantas outras comidas, primeiro estranha-se, mas, uma vez entranhadas, já não queremos outra coisa.

 

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