A Aldeia da Pedra Furada tem selo Michelin

Há restaurantes que, diz-se, são locais de peregrinação. O Pedra Furada é um desses sítios, em duplo sentido – o literal e o figurado. Não só fica ao alcance do Caminho de Santiago, como se viaja até lá com a mesa enquanto destino.

Tenho um amigo que aplica a palavra «viandante» a quem goste de ir à procura de locais com boa carne. É claro que se trata de uma corruptela sinonímica. Os viandantes são os caminheiros. Mas por que diabo são chamados aqui, a um espaço de notas sobre restaurantes?

Na vida, passei três vezes pelo Pedra Furada. A primeira, no final dos anos 1970. O espaço era algo diferente e chamava-se ou chamavam-lhe Maria da Pedra Furada, por virtude do nome da proprietária. Terá nascido de uma tasca criada há 70 anos, passando, em 1974, a restaurante. Ficou-me na memória ter já então uma cave de vinhos afamada, num tempo em que, pela província, isso não era muito vulgar. Ainda hoje ela se recomenda, muito embora, nesta última visita, me tenha satisfeito com o muito razoável tinto da casa.

A aldeia de Pedra Furada fica cinco quilómetros a sul de Barcelos (melhor, de Barcelinhos, para quem conhece as peculiaridades da área), na EN 306. É um espaço rústico, com um serviço profissional e atento. O proprietário, António Herculano, é uma figura hospitaleira que, entre a chegada das vitualhas à mesa, nos fala com entusiasmo da mudança profunda que o seu projeto comercial sofreu, por virtude de o local se ter tornado um afamado ponto obrigatório de passagem de peregrinos no Caminho de Santiago de Compostela.

Daí os viandantes, percebem agora? Ao lado do restaurante, num espaço cosmopolita, cruzam-se diariamente gentes de todo o mundo, contando-se bem para cima da centena as nacionalidades visitantes. No rol de entradas, salientam-se as papas de sarrabulho e as tripas de porco. Quem não for ousado, pode ficar pelas pataniscas, pelo chouriço ou pelas sopas. peixes, a oferta fresca não é grande (linguado, pescada ou robalo), mas realça-se um naipe de quatro bacalhaus – à moda da casa, com broa, cozido ou assado.

Provou-se o primeiro, à Narcisa, que estava de grande qualidade, demolhado ao ponto, lascando como deve ser. Das carnes, passando por entre a pá de porco, os rojões e os clássicos bifes e escalopes, foi-se para o cabrito assado no forno, que é também um conhecido cartão de visita. Não nos arrependemos, tinha ótimo sabor, embora a hora tardia da visita o tivesse trazido um pouco seco.

Por encomenda, há por lá o famoso galo assado, bem típico da região, o arroz de cabidela e o bacalhau dourado. Uma lista de sobremesas simpática, onde brilha o pudim abade de Priscos, fecha o repasto. Mas notei um pudim de laranja, uma tarte de amêndoa, além dos clássicos (mousse, leite-creme, etc). Não fomos para os mexidos (um doce limiano com pão, frutos secos e mel) mas para umas rabanadas de leite (também havia de vinho do Porto), porque, neste domínio, o Natal é quando o cliente quiser.

Em suma: não são muitas as novidades, tendo a casa optado por algumas sólidas «âncoras » que, em especial nos fins de semana, têm forte procura e recomendam reserva. Por mim, sempre que puder, não como viandante mas apenas como «mesário» (outra corruptela sinonímica, desculpem lá!), passarei por este clássico e simpático pouso minhoto.

Restaurante Pedra Furada.
Rua de Santa Leocádia,
1415, Pedra Furada
Tel.: 252951144
Web: pedrafurada.com
Das 12h00 às 15h00
e das 19h00 às 22h00.
Encerra segunda ao jantar.
Preço médio: 20 euros
Este artigo foi publicado originalmente na edição 65 da Evasões, a 24 de junho de 2016. Foi atualizado a 23 de novembro, após anúncio dos restaurantes distinguidos pelo Guia Michelin 2017.




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