Constança Cordeiro: «O cocktail ainda assusta os portugueses»

(Fotografia de Diana Quintela/GI)
Três anos e meio depois de partir para Londres, a jovem bartender que chegou ao top 10 do World Class Reino Unido está de regresso a Portugal. Antes de abrir o seu próprio bar, Constança prepara cocktails no próximo jantar da Rota das Estrelas no Lab do Penha Longa, a 27 de setembro.

Como surge o convite para abrir um dos jantares da Rota das Estrelas?
É um regresso às origens, foi no Penha Longa Resort que comecei, depois de tirar hotelaria no Estoril e de passar pelo Ritz-Carlton em Tenerife. Eles acompanharam o meu trabalho em Londres e convidaram-me para fazer os cocktails antes do jantar preparado por vários chefes, no dia 27. As bebidas que vou criar nesse dia são com desperdícios do hotel. Uma delas vai ser um bellini com licor de croissant que sobrar do pequeno-almoço do hotel, por exemplo.

De onde vem este gosto pela coquetelaria?
Venho de uma família dada às artes. O meu pai é arquiteto, a minha irmã restaura quadros e o meu irmão é músico. Sempre quis criar algo e descobri que isso era possível no bar. Mas há três anos e meio, não havia cultura de cocktails em Portugal, por isso fui para Londres, muito informada do tipo de bar em que queria trabalhar. Passei por vários até ao último, o Peg & Patriot, onde tínhamos oito horas de produção diária no laboratório do bar.

O que a fez regressar?
Há dois anos que tenho este projeto de abrir o meu próprio bar, o Toca da Raposa, num caderno. Decidi que estava na altura, mas o mercado em Londres está muito saturado. E em Lisboa ainda não há nenhum bar que faça o que que quero fazer. Vou abrir no início do próximo ano, mas já entro noutra altura do campeonato, em que muitos barman portugueses trabalharam já este interesse nacional pela mixologia.

O que vai acontecer de diferente no Toca da Raposa?
Vou só trabalhar com produtos frescos portugueses e quero produzir 80% dos meus ingredientes. Muitos em laboratório, onde vou fazer as minhas próprias infusões, redestilar, preparar os licores e os fermentados. Estou agora a fazer experiências em Arraiolos, na quinta da minha família, onde tenho uma ameixoeira, pereira, macieira, laranjeira e outras árvores e frutos à disposição.

A mixologia em Lisboa mudou muito nos últimos três anos?
Regressei há apenas três meses, mas do que vi até agora os portugueses ainda não têm muito a cultura de beber cocktails, mas acho que os bares evoluíram imenso. Os colegas de profissão dizem-me que, apesar da maior parte dos clientes de cocktails ainda serem estrangeiros, que a balança está a começar a ser mais equilibrada com o público nacional.

O que falta ainda para o convencer?
O cocktail ainda assusta os portugueses, até porque os ingredientes nem sempre parecem os mais simples. E beber cocktails ainda é um luxo, não é um bem essencial, é mais um prazer. E depois temos a cultura do vinho e da cerveja, que é um quinto do preço. Nem todos têm de gostar de cocktails. Acho que falta sobretudo cultura, mas também não existia de fine dining há uns anos.

A carreira em Londres
A jovem de 27 anos foi finalista do World Class Reino Unido, no início de fevereiro. Ficou entre os 10 primeiros lugares no concurso da Diageo, um dos mais prestigiantes no mundo dos cocktails. Até abrir o bar, em Portugal, vai fazer eventos pop-up com alguns chefes nacionais. Pode segui-la no instagram.




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