Crítica de vinhos: o revivalismo da talha no Alentejo

O mais recente título de Cortes de Cima enquadra-se na senda revivalista que os produtores nacionais estão a imprimir aos seus portfólios. Tem, contudo, uma história única, a denunciar o compromisso sério e de sempre com a inovação que pauta tudo o que ali se produz. O nome Amphora diz quase tudo.

A história já foi contada inúmeras vezes e está vastamente documentada. Carrie e Hans Jorgensen começaram o projecto Cortes de Cima em 1988, há quase 30 anos, e a história de amor que os fez descobrir e fixar no Baixo Alentejo, perto da Vidigueira, continua a transformar tudo todos os dias. Hans é um criador nato, detentor de uma genialidade que lhe permite debruçar-se sobre qualquer assunto e extrair-lhe um conteúdo único e original.

Olhando à sua volta – e abstraindo-se da frieza com que os vizinhos receberam o casal de empreendedores –, interessou-se naturalmente pelo antigo, e decidiu que ia fazer um vinho de talha. Comprou várias talhas e dedicou-se com afinco ao que podia ser um vinho-emblema, mas os resultados foram tão dececionantes que abandonou a ideia, passando a dedicar-se aos vinhos que hoje conhecemos. A talha, contudo, ficou como logótipo de Cortes de Cima, um dia Hans sabia que iria voltar ao assunto. Voltou e como!

Com o seu chefe de enologia, Hamilton Reis, trabalhou ao longo de quatro longos e aturados anos em experiências, provas e recomeços a partir do zero. O Amphora 2014, agora lançado, fermentou numa talha grande, de 600 litros, sem qualquer revestimento interno, ao longo de doze dias, e depois passa para uma outra talha, mais pequena e de boca muito apertada, para ao longo de doze meses afinar o perfil.

Ao contrário do que se podia pensar, o vinho é incrivelmente fino e delicado, com um frescura surpreendente. É um vinho a descobrir e guardar, original pelo macio que é e pelas notas terrosas que apresenta, juntamente com o património frutado das castas que estão na sua origem. Produziram-se apenas 2.400 garrafas e é um primeiro teste ao mercado. Por nós podem continuar e multiplicar a produção, está mais do que aprovado! Trabalho de enologia notável, estão de parabéns Hans Jorgensen e Hamilton Reis. Obrigado!

 

Amphora regional alentejano tinto 2014 | Cortes de Cima
Classificação: 18 em 20

45% aragonês, 30% syrah, 15% touriga nacional e 10% trincadeira é a composição de castas do vinho de estreia produzido em talhas na adega. Frescura admirável, entra macio na boca e evolui muito lentamente, para terminar longo e harmonioso, com grande ligeireza. Pode ser sugestão, mas dir-se-ia que tem notas de barro húmido, com a correspondente sugestão de frescura que marca todo o vinho. Harmoniza bem com pratos equilibrados e não muito pesados, e trata por «tu» especiarias e temperos exóticos.

 

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