Sé: um vasto passeio pelo bairro onde nasceu o Porto

O Porto foi escolhido pelos viajantes como o Melhor Destino Europeu para 2017, mas continuam a ser os portugueses aqueles que mais visitam lugares como a sua Catedral. A pretexto dessa eleição, preferimos começar pelo princípio. Foi no Morro da Sé que o Porto nasceu e daí se estendeu pelo território que hoje ocupa. Esse berço é agora um delicioso e surpreendente conjunto de monumentos, recantos, arte urbana, vidas quotidianas, novos lugares de comida e de compras, vistas espetaculares e muitas ruas estreitas por onde ir sem destino é o melhor passeio.

Estamos no sítio onde nasceu a cidade, o Morro da Sé. No topo, imponente, a Sé Catedral do Porto. A sua construção em estilo românico remonta ao século XII, embora ao longo dos tempos tenha sido alvo de ampliações e renovações até à alteração final, já no século XX. Incontornável ponto de atração turística, galardão conquistado também pela belíssima visão sobre a cidade que o acentuado declive permite aos visitantes, ganhou recentemente um novo atrativo.

O bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, abriu as portas do Paço Episcopal à cidade e, ao contrário do que seria de esperar, têm sido os portugueses a liderar as visitas a este tesouro com séculos de história.

A Igreja de Santa Clara está em obras, mas as portas abrem-se para conhecer esta maravilhosa joia do barroco profusamente revestida a talha dourada

A monumentalidade impressiona, mas exige-se um desvio para arruamentos menos calcorreados. Antes de mais, um pequeno desvio para o Largo 1º de Dezembro, onde não pode falhar uma espreitadela à Igreja de Santa Clara. O templo está em obras, mas as portas abrem-se para conhecer esta maravilhosa joia do barroco profusamente revestida a talha dourada. E através do arco que dá acesso à igreja, pode-se também chegar a um dos troços da Muralha Fernandina do Porto sobre o qual se pode caminhar, tendo diante dos olhos aquela que será uma das melhores vistas sobre o centro histórico e o rio.

Depois desse miradouro, voltando atrás ao Largo 1º de Dezembro, comecemos então a descida das Escadas do Codeçal, um dos recantos pouco conhecidos do chamado Porto antigo. As casas convivem com os pilares de sustentação da Ponte Luís I, construída em 1880, e a passagem do metro faz vibrar o edificado. Talvez por isso ainda não tenha aqui chegado a cidade gentrificada. Ao fundo, já quase a chegar à Ribeira, no gaveto das Escadas do Codeçal com a Rua Senhora das Verdades, vê-se a Capela de Nossa Senhora do Patrocínio, edificada no século XVIII. Não é visitável mas nem por isso deixa de valer a pena observá-la.

A chegar à Ribeira, no gaveto das Escadas do Codeçal com a Rua Senhora das Verdades, vê-se a Capela de Nossa Senhora do Patrocínio, do século XVIII

Voltamos a inverter o rumo e subimos a granítica Rua da Senhora das Verdades até às escadas homónimas. Mal damos por ela, mas estamos de volta à Sé, em plenas traseiras da Catedral. Esta é a Rua Dom Hugo, a primeira zona habitacional de que há registo à beira da muralha. É aqui que encontramos uma das casas mais antigas da cidade do Porto, construída na primeira metade do século XIV, a chamada Casa dos Redemoinhos.

É ainda de assinalar, nessa rua, o Núcleo Arqueossítio, que conserva a mais longa sequência de ocupação humana documentada no Porto. Ao longo de três metros de profundidade, podem identificar-se vinte camadas arqueológicas, integrando ruínas arquitetónicas e espólios do século IV A.C. até à atualidade. As visitas guiadas exigem marcação prévia na Casa-Museu Guerra Junqueiro, que recria os ambientes da casa onde viveu o poeta e apresenta uma importante coleção de Artes Decorativas.

Para não ir ao engano, é de relembrar que o edifício do século XVIII, cuja construção é atribuída a Nicolau Nasoni, está a sofrer obras de reabilitação e a reabertura só está prevista para Março. Mesmo em frente, está localizada a Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro e Luís Pinto de Mesquita Carvalho, que dá a conhecer algumas das coleções de arte reunidas pelo escritor, a biblioteca e o escritório de Guerra Junqueiro, as salas evocadoras da instituição e o átrio onde se revelam os gostos da Família Junqueiro.

O Núcleo Arqueossítio, que conserva a mais longa sequência de ocupação humana documentada no Porto.

Desçamos novamente a rua D. Hugo para contornar a Sé pelas traseiras, em direção ao Largo do Doutor Pedro Vitorino, onde um outro miradouro nos relembra o porquê de a cidade ter sido eleita Melhor Destino Europeu pela terceira vez consecutiva. Desta grande varanda, de olhar sobranceiro para a Igreja de S. Lourenço [mais conhecida como Igreja dos Grilos, construída pelos jesuítas em 1577], a vista abarca a urbe em toda a sua majestosidade. Para além do templo, não é de desprezar uma visita à ala seiscentista do antigo Colégio Jesuíta, onde está instalado o Museu de Arte Sacra e Arqueologia do Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição do Porto.

Voltando às artérias sinuosas da Sé, chegamos à Rua Pena Ventosa com as suas casas medievais, muitas delas já recuperadas, onde dezenas e dezenas de plantas enfeitam janelas e soleiras das portas. Entrados no Largo com o mesmo nome viajamos para um outro tempo neste espaço rasgado entre penedos, que durante a Idade Média era designado por Largo do Forno, supostamente porque ali estariam instalados os fornos para cozedura de pão.

Era na Rua de Sant’Ana, que em tempos se situava uma das quatro portas da velha cidade do Porto

Poucos metros abaixo, eis-nos chegados à Rua de Sant’Ana, onde em tempos esteve uma das quatro portas da velha cidade do Porto. Do Arco de Sant’Ana, imortalizado pela obra homónima de Almeida Garrett, resta hoje um pequeno oratório, ao qual as gentes da Sé ainda prestam devoção. Foi também nesta rua que, no século XII, se fixou a primeira judiaria da cidade, por isso conhecida como Judiaria Velha ou Primitiva.

Mesmo para o mais leigo, é impossível não perceber os variados vestígios de ocupação humana no Morro da Sé. E que ninguém diga que este berço do Porto não é um dos melhores destinos europeus de sempre.


COMER & BEBER

Arco das Verdades

Este antigo arco de um aqueduto transformou-se no Arco das Verdades Wine Bar, [mais um] espaço de vista privilegiada onde pode encontrar uma vasta seleção de vinhos ou cerveja artesanal e aproveitar para petiscar para retemperar energias antes de voltar a fazer-se à ‘estrada’.

Casa da Mariquinhas

É mesmo ao lado da Sé Catedral que resiste a mais antiga casa de fados do Porto. Na Casa da Mariquinhas há fado profissional ao vivo acompanhado por um petisco ligeiro ou uma bela jantarada, num menu que cruza a gastronomia tradicional portuguesa e a contemporânea. As noites são concorridas, por isso sugere-se reserva antecipada – sujeita a um consumo mínimo à carta do restaurante, no valor de 37 euros euros por pessoa, e com isenção do pagamento da taxa de espetáculo.

Português de Gema

É aqui, neste coração do Porto, que também começam a nascer alguns sonhos, como é o caso do Português de Gema, um projeto de economia social dinamizado pela SAOM (Serviços de Assistência Organizações de Maria), entidade responsável pelo restaurante Torreão, situado na rua das Virtudes, em Miragaia, onde reside a sede da instituição. Cristina Laxale, 47 anos, é a face desta mercearia fina com produtos portugueses produzidos por pessoas com passado de exclusão social. Uma sala alheada dos olhares de quem passa na rua e um pátio exterior nas traseiras são palco para almoços e jantares mas também para um simples lanche, um copo de vinho ou sangria (uma especialidade da casa, a par dos ovos moles). O espaço pode acolher eventos para até 26 pessoas (entre 15 a 20 euros). No menu encontram-se tábuas de queijos, enchidos (7,50 euros) ou conservas (4 euros), tostas de queijo da serra com paio (6,50 euros), Bacalhau em crosta de broa (pequeno, a 5,50 euros, XL por 10 euros), Tripas à Moda do Porto (4 euros), Rojõezinhos com castanhas (9 euros), entre outros.

COMPRAR

Arte e Alma

Outro exemplo de persistência nesta zona da Sé é o Arte e Alma, uma loja de artesanato na rua da Bainharia. Tradicionalmente mal-afamada, porque associada ao tráfico de droga, a rua tornou-se como uma segunda casa para Ana Reis, 40 anos, que aqui instalou um oásis do artesanato português. Aqui só se vendem peças cujos artesãos a proprietária conhece e que tem a “certeza de que são feitos à mão”. Fazem também workshops em torno de várias temáticas artesanais, como a feltragem, o mosaico, a cerâmica, nós de marinheiro ou bordados. Uma novidade é a roda de oleiro recentemente adquirida. Para além das sessões de formação, está disponível para quem quiser aperfeiçoar essa arte. Pode ir e praticar.

Ecolã

É uma pequenina, pequenina loja, mas encerra uma história familiar que teve início do século passado. A Ecolã é uma UPA (Unidade Produtiva Artesanal) certificada que existe desde 1925 na vila de Manteigas, onde a marca realiza todo o processo da transformação da lã, da tosquia, à sua seleção, à fiação, tecelagem e à produção do produto final. No espaço da Mouzinho da Silveira (e ainda noutro espaço, na Travessa da Bainharia, 37) são vendidas as peças 100% lã de ovelha Bordaleira, raça própria da Serra da Estrela, do burel às malhas, com vestuário para homem e mulher, acessórios e mantas e cobertores. Nas suas instalações em Manteigas, pode ainda assistir-se a todo o processo de produção que a marca faz questão de dar a conhecer.

Loja das conservas

Não falta lata À Loja das Conservas, espaço oficial da Associação Nacional dos Industriais das Conservas de Peixe (ANICP) que apresenta mais de 400 referências da indústria conserveira portuguesa (estão representadas 19 empresas do setor). Do mexilhão à enguia, passando pela simples sardinha, não falta por onde escolher. Se os turistas são a maior fatia da clientela, os portugueses batem cada vez mais à porta desta loja, também fruto da atenção que os chefs têm dado a este produto – sem aditivos e de grande valor alimentar.

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