Açores: um pezinho na Ribeira Grande

A ilha de São Miguel é conhecida por Ponta Delgada, pela lagoa das Sete Cidades, pelas Furnas. Mas há muito mais que merece ser conhecido. A Ribeira Grande e o seu município têm maravilhas que não ficam atrás dos postais mais famosos.

Ponha aqui o seu pezinho, devagar, devagarinho se vai à Ribeira Gran­de» cantava a música popular aço­riana referindo a segunda cidade de São Miguel. Se no passado se ia de­vagarinho até à Ribeira Grande, hoje chega-se num instante. A partir de Ponta Delgada, na costa sul, são cerca de 15 quilómetros em auto­estrada. Uns 15 minutos de carro.

Antes de chegar ao centro, ainda perto da entrada na cidade, há que procurar pelo Ar­quipélago – Centro de Artes Contemporâne­as. Com um ano e meio, este espaço cultural marcou definitivamente a ilha. Independente­mente da exposição que esteja no momento – e agora está uma mostra internacional de traba­lhos académicos -, o Arquipélago vale sobre­tudo pela intervenção arquitetónica dos edifí­cios, tanto os já existentes como os que foram construídos.

Uns fizeram parte de uma fábri­ca de álcool e depois de tabaco, outros nasce­ram de raiz para compor o conjunto do centro de artes. Mas, apesar de se distinguirem uns dos outros, há evidente harmonia entre o an­tigo e o novo. À chegada pode parecer confu­so seguir um roteiro, mas faz parte da experi­ência uma certa desorientação. Passar de uns edifícios para outros, que variam entre o negro da pedra vulcânica e o branco da tinta ainda pouco martirizada pelo tempo, e de umas sa­las para as outras, de várias larguras e alturas. Pode parecer injusto, mas a força e a beleza do espaço é tal que as exposições parecem mero pretexto para a visita.

Seja como for, o Arqui­pélago deve fazer parte dos planos do viajante de São Miguel. E imprescindível quando se vai à Ribeira Grande, já que além da beleza arqui­tetónica tem uma loja e livraria, oficinas, cen­tro de exposições, centro documental e centro de produção audiovisual.

Saindo do Arquipélago, é virar à esquerda em direção ao centro, pela Rua de São Francis­co, que mais à frente muda de nome para Rua de Nossa Senhora da Conceição. Dez minutos a pé são suficientes para chegar à parte cen­tral da cidade. Aí encontram-se alguns edifí­cios importantes, como duas belas igrejas, mas também prédios residenciais com comércio no piso térreo, de beleza simples como é co­mum nos Açores.

Ribeira Grande não é exceção a esta arqui­tetura portuguesa que se encontra espalhada tanto no continente como um pouco por todo o mundo que foi português, mas aqui ganhou caraterísticas próprias com a pedra escura e vulcânica.

Já não da época das primeiras ca­sas da povoação original, que seriam de finais do século xv, mas dos últimos dois ou três sé­culos, até porque algumas catástrofes asso­laram a antiga vila, elevada a cidade em 1981.

Mesmo antes de nos aparecer a ribeira que dá nome à cidade, com a sua bela queda de água por baixo da ponte e o elegante edifício da câmara municipal, está o Teatro Ribeira ­grandense, de 1933, de dimensões generosas para uma localidade com cerca de 13 mil ha­bitantes.

Entre o centro de artes e a câmara são uns 15 minutos, que podem ser mais demorados caso se pare para entrar nas igrejas de São Francis­co e de Nossa Senhora da Conceição. A demo­ra pode ter ainda uma outra razão: entrar num dos vários cafés e tasquinhas e ficar à conver­sa com as pessoas da terra, boa gente com boas histórias. A simpatia é uma garantia.

Caso aperte o apetite e, pedindo-se a al­guém uma recomendação de restaurante, a resposta será invariavelmente uma: a Asso­ciação Agrícola de São Miguel, em Rabo de Pei­xe. É aqui que se come o bife mais famoso da ilha. Não tem muitos temperos, e nem precisa, pois a carne é daquelas que se desfazem de tão macia que é. Atenção que as doses são grandes, tal como o espaço, que é amplo. Decoração en­tre o branco, as madeiras que forram parte das paredes e os candeeiros de verga. Moderno e agradável. É aconselhável reservar ou ir antes da hora tradicional das refeições.

No município de Ribeira Grande há vários pontos que parecem saídos de uma história de encantar. Aliás, é assim um pouco por toda a ilha e por todo o arquipélago. Mas há um famo­so que não pode deixar de ser mencionado, e um outro ilustre desconhecido para forastei­ros. O primeiro é a Lagoa do Fogo. À medida que se vai subindo a montanha avistamos o mar da costa norte que fica para trás. E lá ao fundo são bem visíveis Ribeira Grande e Rabo de Peixe. E a paisagem aos poucos muda… Um pouco como o tempo nestas ilhas, que varia rapidamente de sol para chuva para a seguir voltar o sol.

Che­gados ao miradouro de estrada para admirar a Lagoa do Fogo, é impossível não ficar emocio­nado. Parece que se chegou a um local sagra­do. Até falar alto ali parece mal. Contempla-se e respeita-se tal beleza. É a segunda maior lagoa da ilha e daquela crate­ra vulcânica feita lagoa houve uma última erupção em 1563.

Voltando para trás na estrada que leva à lagoa, há que procurar pela cascata do Salto do Cabrito. O caminho a determinada altura começa a descer e passa a terra batida. Mas o cenário que se vai encontrar depois compensa o esforço. Trata-se de uma cascata de 40 metros, que no fun­do são duas, uma mais interior, menos visível, e uma mais exterior que cai num pequeno la­go de águas cristalinas. Se a temperatura e o clima deixarem, há que tomar um banho.

Ca­so contrário, ficar uns largos minutos a olhar para aquelas íngremes rochas e ouvir a água a cair é suficiente para dar a visita como muito bem empregada. Sem nunca sair do territó­rio de Ribeira Grande, uma última paragem. Ou melhor, a base de exploração, uma das propostas de alojamen­to mais recentes de São Miguel: o Santa Barbara Lodge. Inaugura­do neste verão, pouco mais de um ano após Rodrigo Herédia e João Reis terem aberto o «primogéni­to» Santa Barbara Eco-Beach Re­sort. Os conceitos são diferentes, distam 12 qui­lómetros entre si, mas complementam-se.

O Lodge faz-se de pequenos apartamen­tos, com kitchenette, para casais, famílias ou amigos estarem mais independentes do que estariam num hotel ou num resort mais con­vencional. Os quartos/apartamentos estão muito do perto do mar e parte deles tem vis­ta para esse azul imenso. O branco, as madei­ras e alguns apontamentos de cor proporcio­nam o ambiente de paz em comunhão com a natureza. Afinal não é isso que tão bem defi­ne os Açores?

 

Visitar

Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas
Rua Adolfo Coutinho de Medeiros. Tel.: 296470130.
Web: arquipelagocentrode­artes.azores.gov.pt.
Das 10h00 às 18h00. Encerra à segunda.
Lagoa do Fogo. GPS: 37.7657, -25.4953

Comer

Restaurante Associação Agrícola de São Miguel
Campo de Santana, Recinto da Feira, Rabo de Peixe Tel.: 296490001
Web: aasm-cua.com.ptDas 12h00 às 23h00.
Não encerra.Preço médio: 20 euros

Restaurante Areais
Santa Barbara Eco-Beach ResortEstrada Regional 1, 1º Morro de Baixo
Tel.: 296470360 santabarbaraazores.comDas 12h30 às 14h30 e as 19h30 às 22h30. Não encerra.
Preço médio: 35 euros

Ficar

Santa Barbara Lodge
Canada da Tapada, 14, São Vicente FerreiraTel.: 296470360 Web: facebook.com/santabarbaraecobeach
Quartos duplos a partir de 80 euros por noite

 




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