À descoberta das maravilhas e das praias junto ao Zêzere

Na Serra da Estrela nasce o rio Zêzere, que vai desaguar no rio Tejo mais a sul, em Constância. À volta deste rio há muitas rotas possíveis para se conhecer o interior centro de Portugal, sempre com água à vista e com bons motivos para se ir fazendo paragens.

Da nascente à foz do Zêzere, encontramos a praia fluvial mais elevada do país, pretexto para aventuras, tabernas onde se saboreiam os ingredientes da região, lugares para repousar o corpo e a mente e muitas histórias de vida ligadas à serra e às terras do xisto. Também vemos as marcas dos incêndios recentes, mas sobretudo a força desta região portuguesa cheia de encantos.

Da praia mais alta ao vale glaciar

Quando se sobe a serra da Estrela pela estrada nacional 232, várias placas ao longo do caminho vão indicando a altura a que o viajante se encontra. Até que ao quilómetro 1437, chega-se à praia fluvial mais alta do país: Vale de Rossim. No lugar que, até aos anos de 1950 era sítio de pastagens de rebanhos durante a transumância, encontra-se uma das praias serranas mais concorridas durante o verão. Este grande lago formado pela construção da barragem na ribeira de Fervença é ponto de encontro para quem quem gosta da serra e se quer refrescar quando as temperaturas apertam.

Já no final da época balnear, os dias podem ser mais instáveis. Mesmo que não esteja tempo para dar um bom mergulho, muito há para fazer ali à volta, como o percurso à volta das Penhas Douradas com os seus miradouros Fragão do Corvo, Vale das Éguas e Corgo das Mós. Aqui, está-se mesmo ao lado do Vale Glaciar do Vale do Zêzere. São treze quilómetros por entre curvas e contracurvas, a fazer com atenção.

Quando se sobe a serra da Estrela pela estrada nacional 232, várias placas ao longo do caminho vão indicando a altura a que o viajante se encontra. Até que ao quilómetro 1437, chega-se à praia fluvial mais alta do país: Vale de Rossim.

A serra no verão é muito diferente da que se encontra no inverno, não só no aspeto mas também no que diz respeito às pessoas. «Isto no inverno está cheio de gente», diz Carlos Baptista, dono da Taberna das Caldas, em Manteigas, Vale do Zêzere, que nesta altura tem uma casa mais tranquila, excetuando nos fins de semana, quando os clientes fazem fila à espera de mesa. Tudo para comer os produtos da região, seja o queijo de cabra ou de ovelha produzido segundos os métodos tradicionais, enchidos como morcela, farinheira, chourição, dobrada, carne em vinha d’alhos e moelas.

Assumidamente sem luxos, quem aqui vem já sabe com o que conta: a mão dotada de Carlos, que começou como ajudante de cozinha com apenas 15 anos, trabalhando ao lado de experientes cozinheiras que faziam festas de casamentos na vila. Há 11 anos que deixou o outro restaurante que tinha, também em Manteigas, para se dedicar apenas a este negócio, onde não há fins de semana nem feriados. A salamandra fica ligada de outubro a março.

«No inverno, quando o tempo está mau mas não há neve, os turistas vão embora muito desconsolados», diz Rafael Martins, do Hotel Berne. Por isso, é na época mais quente que interessa também agora apostar.

Mas os invernos já não são o que costumavam ser. Pelo menos os últimos dois foram parcos em neve, mas não em mau tempo. Rafael Martins, um dos Martins que está à frente do Hotel Berne, em Manteigas, com uma vista privilegiada sobre o Vale do Zêzere, afirma que só em fevereiro a neve «chegou com potencial». «No inverno, quando o tempo está mau mas não há neve, os turistas vão embora muito desconsolados». Por isso, é na época mais quente que interessa também agora apostar. Juntamente com o irmão Marco, Rafael cresceu a trabalhar com o turismo.

Nascidos na Suíça, para onde os pais emigraram nos anos 70, vieram para Portugal ainda crianças. «Os meus pais – que trabalhavam na embaixada de Portugal – queriam que estudássemos em Portugal», explica.

Foi só em 1993 que abriram o albergue, que passou a hotel há meia dúzia de anos. Com 17 quartos, é um espaço sóbrio e tranquilo. Mais recentemente foi acrescentada uma piscina de água salgada. Logo em 1982 abriram um restaurante que trouxe novidades à terra, incluindo comida internacional. Com eles trouxeram a vontade de fazer algo pela sua terra e homenagear, ao mesmo tempo, a cidade que os recebeu. O restaurante está instalado numa sala envidraçada com belas vistas sobre o Vale do Zêzere. É neste cenário que se comem pratos regionais – cabrito, migas de feijoca com enchidos, trutas em escabeche – e especialidades internacionais, como a raclette ou o fondue, pratos que trouxeram da Suíça. Tudo feito por Maria José Martins, à frente da cozinha.

Trutas e vales glaciares

Não faltam motivos para ir à serra fora da temporada da neve. De Manteigas pode explorar-se todo o Vale do Zêzere, o maior vale glaciar da Europa. A sua forma em U é o testemunho de milhares de anos de pressão do gelo durante a última glaciação. Perto da vila, percorre-se o trilho do Poço do Inferno, com passagem garantida por esta cascata com dez metros. Para se ficar a conhecer melhor o território, pode visitar-se o Centro Interpretativo do Vale do Zêzere, onde se aprende sobre a fauna, a flora e a cultura de Manteigas, tudo numa exposição audiovisual interativa.

Mesmo ao lado desenvolve-se uma das mais importantes atividades da região, a truticultura. «Um bom caudal de água pura e limpa» é o que é necessário para a criação de trutas, explica António Quaresma, que trabalha na área há décadas. Boas condições não faltam neste viveiro que pertence ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). A pureza das águas faz crescer aqui trutas desde 1948. O viveiro original, onde atualmente as trutas arco-íris e fário se reproduzem, funciona também como jardim público (onde é expressamente proibido os visitantes alimentarem as trutas, animais frágeis), com parque de merendas e um parque infantil.

«Um bom caudal de água pura e limpa» é o que é necessário para a criação de trutas, explica António Quaresma, que trabalha na área há décadas.

Do outro lado da rua funciona a parte mais recente do viveiro, em antigos viveiros de plantas. Esta não está aberta a visitas, apenas para venda de trutas. Neste vale, as condições para este animal natural do hemisfério norte-americano se desenvolverem são boas. António explica: de dezembro a março é a desova, devido a baixas temperaturas. Com o tempo um pouco mais quente, as trutas crescem e desenvolvem-se e, quando atingem os 20 centímetros, já podem ser vendidas».

A poucos quilómetros de distância, outro vale glaciar chama a atenção: o de Loriga, onde se encontra uma das mais bonitas praias fluviais do país, com o mesmo nome. Um espelho de água límpido, onde se reflete o azul-esverdeado do meio envolvente.

Do granito ao xisto

A partir de Loriga, continua-se a descer a serra, entre o verde rasteiro, as rochas mais altas, despidas de vegetação e estradas estreitas. Vai-se saindo de uma serra e entrando noutra. É já à volta da Serra do Açor que o xisto começa a sobressair. Uma paragem impõe-se: a praia fluvial da Foz d’Égua. É o ponto de encontro entre a ribeira de Piódão e a de Chãs, que correm em direção ao Alvoco. Uma represa cria um espelho de água muito límpido e verde. À volta, há casas de xisto encaixadas nos montes. Uma ponte suspensa de madeira e cordas sublinha a ruralidade do espaço.

É natural que nos próximos meses quem fizer viagem por estas regiões de Portugal encontre ainda vestígios dos incêndios deste verão. Principalmente no caminho que se segue: até à Sertã. São pouco mais de duas horas de carro até àquela vila no distrito de Castelo Branco, em que a beleza da paisagem é intercalada com a desolação do castanho e do preto.

O hotel de charme Convento da Sertã – construído para os frades franciscanos no século XVII – abriu em 2013.

Mas é preciso seguir em frente. «Os incêndios na zona este ano proporcionaram-nos semanas difíceis», admite Elsa Marçal, diretora do Hotel Convento da Sertã. Foram dias de desânimo para muita gente, incluindo quem faz do turismo a sua vida. «Houve cancelamentos significativos de reservas», diz a empresária que tenta divulgar e dar a conhecer a região onde nasceu. Este hotel de charme – construído como convento franciscano no século XVII – abriu em 2013, mesmo no centro da Sertã. Apesar de estar em mau estado quando passou para a empresa de Elsa (Santos & Marçal), criada cinco décadas antes pelos pais, e ter dado trabalho a recuperar, acabou por ser o passo mais fácil. «Bastavam coisas simples, pois a arquitetura do hotel já é imponente. Queríamos uma unidade com todo o conforto e 100 por cento nacional. Os artesãos locais fizeram as mesas, as cadeiras e tudo o que é decoração hotel. A parte mais difícil está a ser contrariar o desconhecimento sobre a região. Pensei que ia ser mais fácil, pois por aqui há muita água», refere.

O Zêzere e alguns dos seus afluentes passam mesmo ali à porta e são responsáveis por algumas das mais bonitas praias fluviais da zona. Elsa criou mesmo um mapa com as principais atrações da região; criou também vários passeios possíveis, sempre com a água à vista, que passam pelas várias praias e outros espaços de lazer, onde «ainda há tempo para a calma», como diz Elsa em jeito de slogan.

O Zêzere no Trízio

No Trízio, a uns 20 quilómetros da Sertã, a Barragem do Castelo de Bode cria uma albufeira larga no rio Zêzere, com vários braços e recantos. Aqui funciona o Centro Náutico do Zêzere. Com um restaurante e café, uma pequena zona balnear, um parque para caravanas e uma marina, este espaço em cima do rio e rodeado de arvoredo atrai os curiosos por desportos náuticos.

Desde 1993, que Vítor Carvalho trabalha no centro e é atualmente responsável por explorar esta vertente. «Tinha 16 anos quando comecei a trabalhar aqui. O centro tinha aberto há três anos e comecei a vir para cá durante o verão com o meu irmão», conta, enquanto prepara um passeio de barco até à praia fluvial de Fernandaires no seu barco-pontão de 10 lugares. Além deste passeio de meia hora, promove outro mais longo, até ao Lago Azul, já em Ferreira do Zêzere.

Quem quer experiências mais radicais, pode experimentar o wakeboard (uma espécie de snowboard na água) e o skyboard no Centro Náutico do Zêzere.

Quem quer experiências mais radicais, pode experimentar o wakeboard (uma espécie de snowboard na água) e o skyboard. O Vítor e o irmão foram os primeiros a praticar ali wakeboard e começaram a organizar campeonatos. Hoje, muita gente vai ao centro para praticar a modalidade ou só experimentá-la. O centro funciona até ao fim de setembro e reabre em abril, até porque no inverno as tempestades são daquelas que arrancam árvores da terra, conta Vítor. No verão, pode haver incêndios e este ano foram muitos, o que se percebe em parcelas queimadas à volta da albufeira. Mas quando há um incêndio, «este é o sítio mais seguro para se estar», no meio do rio, onde continua a haver tempo para a calma.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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